As
roupas já não vestem. Os sapatos já não cabem. As migalhas não mais satisfazem.
As coisas já não bastam. A multidão já não acolhe. Os sorrisos já não são
despertados pelas mesmas coisas de outrora. As lágrimas já brotam com mais
facilidade, ou já secaram e ficaram retidas dentro do peito, sem previsão de
liberdade. O sol já não brilha com tanta intensidade. Os passos já não são tão
largos. O coração quase não palpita. A respiração é quase inaudível. O
travesseiro é o melhor companheiro. A imagem já não é a mesma no espelho... Parece
que você foi se perdendo pela estrada, que a cada passo, pedaços seus foram
caindo, e lá ficaram, no meio do caminho, sem resgate. O que restou? É difícil
calcular. Ás vezes, você se torna distante até de si mesmo. Nada se encaixa.
Nada faz sentido. As lembranças somam-se ás incógnitas do futuro, fazendo com
que o presente se torne uma grande bagunça. O fim da estrada? Não há como percebê-lo.
Está encoberto pela névoa do enleio e do medo. Parece que não há mais saída...
E é nesse momento que a vida se transforma! Que o novo surge com suas cores e
aromas. Que uma nova imagem surge no espelho. Você não se reconhece, mas sabe
que a sua essência não mudou, que seu “eu” está ali, numa versão melhorada. Você
é mais forte, mais preparado, mais livre, mais sábio. Novas oportunidades e
sabores surgem, e o receio pode aparecer. Mas não tema. Se jogue! As melhores
coisas não podem ser explicadas, e nem precisam disso. Deixe a vida “ser”. Mais
na frente, tudo se justifica, e você, finalmente, vai entender o propósito de
todas as coisas.
"O tempo passa. O fôlego retorna.
Parece milagre, mas as sementes de cura começam a florescer
nos mesmos jardins onde parecia que nenhuma outra flor brotaria.
A alma é sábia: enquanto achamos que só existe dor,
ela trabalha, em silêncio, para tecer o momento novo.
E ele chega."
(Ana Jácomo)
1 comentários:
Muita sabedoria... Um espaço de grande valor e beleza, parabéns!
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