Entre aspas...

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

  

  Fico pensando que nem sempre sabemos recolher só encanto... Por vezes, insistimos em capturar o encantador, e então o matamos de tristeza. Amar talvez seja isso: Ficar ao lado, mas sem possuir. Viver também. Precisamos descobrir, que há um encanto nosso de cada dia que só poderá ser descoberto, à medida em que nos empenharmos em não reter a vida.Viver é exercício de desprendimento. É aventura de deixar que o tempo leve o que é dele, e que fique só o necessário para continuarmos as novas descobertas. Há uma beleza escondida nas passagens... Vida antiga que se desdobra em novidades. Coisas velhas que se revestem de frescor. Basta que retiremos os obstáculos da passagem. Deixar a vida seguir. Não há tristeza que mereça ser eterna. Nem felicidade. Talvez seja por isso que o verbo dividir nos ajude tanto no momento em que precisamos entender o sentimento da tristeza e da alegria. Eles só são suportáveis à medida em que os dividimos... E enquanto dividimos, eles passam, assim como tudo precisa passar. Não se prenda ao acontecimento que agora parece ser definitivo. O tempo está passando... Uma redenção está sendo nutrida nessa hora...
Abra os olhos. Há encantos escondidos por toda parte. Presta atenção. São miúdos, mas constantes. Olhe para a janela de sua vida e perceba o pássaro encantado na sua história. Escute o que ele canta, mas não caia na tentação de querê-lo o tempo todo só pra você. Ele só é encantado porque você não o possui. E nisto consiste a beleza desse instante: o tempo está passando, mas o encanto que você pode recolher será o suficiente para esperar até amanhã, quando o passaro encantado, quando você menos imaginar, voltar a pousar na sua janela.


Padre Fábio de Melo

91 anos de Clarice!

sábado, 10 de dezembro de 2011




Você me encantou desde o primeiro trecho seu que li, há alguns anos atrás, foi ele “Renda-se, como eu me rendi. Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei. Não se preocupe em entender. Viver ultrapassa todo entendimento“. Foi como se você tivesse lido o que pulsava em meu peito ali, naquele instante, e é isso que você tem feito, até hoje, com cada frase, cada texto descoberto, que revela faces minhas, desejos, ânsias... Foi lendo você que consegui “dar asas” ao que sentia, foi quem me inspirou a escrever, e foi quem me ajudou, e vem me ajudando, a descobrir quem sou verdadeiramente, que traz á tona faces desconhecidas minhas. Quantas vezes eu não sabia exprimir o que sentia, e foi na sua escrita que encontrei o que procurava dizer? Diversas. Incontáveis. Você me ensinou que, apesar de tudo, temos que aceitar quem somos, afinal, no fim, só podemos contar com nós mesmos. Você me ensinou a respeitar minha fraqueza, para que depois eu levantasse forte, como um cavalo novo. Você me ensinou a desencanar, a deixar o barco correr, pois as coisas sempre se arranjam. Você me ensinou que o tempo é curto, que a felicidade é a coisa mais importante, e constitui uma grande responsabilidade. Você me ensinou que a coisa mais grandiosa da vida é lançar-me. Você me ensinou que a desistência não é sinal de fraqueza, e sim de respeito por mim mesma. Você me ensinou que a vida é maravilhosa! Você revelou minha profundeza, minha loucura, minha força, minha inconstância, meus pólos, minha inquietação, minha “incompletude”, minha luz, e a minha falta de encaixe, que acaba me encaixando em diversos lugares diferentes. Nós entendemos. Alguns acham que sou louca, por me espelhar em você, por admirá-la, mas quem não te ama, é porque não te entende Clarice. Para enxergar o que tuas palavras querem exprimir, é necessário, primeiramente, sentir teu eu, tua alma, essa luz clariceana que irradia, com toda essa áurea de mistério, que ultrapassou a “casca”, que parecia intocável, justamente por estares acima de todos, por conservar teu mistério, teu encanto. Você nos fascinou, apenas, como disse Drummond, e partiu no seu mistério. Conheci-te anos depois de tua matéria ter partido desse mundo, mas tua alma permanece aqui, na vida de todos os “clariceanos”, e serás imortal, afinal, não há outra coisa que possas ser. Parabéns Clarice!