Entre aspas...

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

  


  A casa do Oscar era o sonho da família. Havia o terreno para os lados da Iguatemi, havia o anteprojeto, presente do próprio, havia a promessa de que um belo dia iríamos morar na casa do Oscar. Cresci cheio de impaciência porque meu pai, embora fosse dono do Museu do Ipiranga, nunca juntava dinheiro para construir a casa do Oscar. Mais tarde, num aperto, em vez de vender o museu com os cacarecos dentro, papai vendeu o terreno da Iguatemi. Desse modo a casa do Oscar, antes de existir, foi demolida. Ou ficou intacta, suspensa no ar, como a casa no beco de Manuel Bandeira.

  Senti-me traído, tornei-me um rebelde, insultei meu pai, ergui o braço contra minha mãe e sai batendo a porta da nossa casa velha e normanda: só volto para casa quando for a casa do Oscar! Pois bem, internaram-me num ginásio em Cataguazes, projeto do Oscar. Vivi seis meses naquele casarão do Oscar, achei pouco, decidi-me a ser Oscar eu mesmo. Regressei a São Paulo, estudei geometria descritiva, passei no vestibular e fui o pior aluno da classe. Mas ao professor de topografia, que me reprovou no exame oral, respondi calado: lá em casa tenho um canudo com a casa do Oscar.
 Depois larguei a arquitetura e virei aprendiz de Tom Jobim. Quando a minha música sai boa, penso que parece música do Tom Jobim. Música do Tom, na minha cabeça, é a casa do Oscar.


Chico Buarque de Hollanda

Dos mistérios de um sorriso!

terça-feira, 25 de janeiro de 2011



  Hoje passei por ti e, novamente, sorristes. Um sorriso branco, tão grande que aparentava ter mais dentes que o normal, e todos bem alinhados. Com esse gesto, consegues dominar minha mente por horas a fio. Perco-me no tempo, procurando saber o que desejarias me dizer. Já tentei falar contigo, mas não deixas, quando esboço o menor sinal de aproximação, foges. E me deixa assim, louca, querendo decifrar-te. 
  Será um sorriso de amizade? De amor? Eu não sei, não sei o que passa por tua cabeça. Só sei que amo! Amo quando me sorris, mais ainda quando esqueces teus olhos sobre os meus por segundos que mais parecem horas, e quando te dás conta, foges – como sempre. Acho que estou me apaixonando. Mas me apaixonando por quem? Por ti? Mas eu não o conheço. Por seu sorriso? Essa será a gota d’água para meu atestado de loucura.
  O desejo mais íntimo de meu coração é que fiques, me conte sua vida, o que sentes, para que eu saiba o que fazer, já não suporto essa agonia, já não cabe mais a mim. Se puderes ouvir meus pensamentos, ou ler em meus olhos, peço-te que fiques, antes que eu enlouqueça.  Afinal, quantos mistérios podem um sorriso esconder?




" E então, quando seus olhos encontraram os meus, 
ele quebrou em um sorriso de exultação de tirar o fôlego."
(Stephenie Meyer)

Entre aspas...

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

  

   A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E, porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E, porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E, porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E, à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.
  A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora. A tomar o café correndo porque está atrasado. A ler o jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem. A comer sanduíche porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.
  A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra. E, aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja números para os mortos. E, aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz. E, não acreditando nas negociações de paz, aceita ler todo dia da guerra, dos números, da longa duração.
  A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisava tanto ser visto.
  A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita. E a lutar para ganhar o dinheiro com que pagar. E a ganhar menos do que precisa. E a fazer fila para pagar. E a pagar mais do que as coisas valem. E a saber que cada vez pagar mais. E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas em que se cobra.
  A gente se acostuma a andar na rua e ver cartazes. A abrir as revistas e ver anúncios. A ligar a televisão e assistir a comerciais. A ir ao cinema e engolir publicidade. A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.
 A gente se acostuma à poluição. Às salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam na luz natural. Às bactérias da água potável. À contaminação da água do mar. À lenta morte dos rios. Se acostuma a não ouvir passarinho, a não ter galo de madrugada, a temer a hidrofobia dos cães, a não colher fruta no pé, a não ter sequer uma planta.
  A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se a praia está contaminada, a gente molha só os pés e sua no resto do corpo. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não há muito o que fazer a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.
 A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele. Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se de faca e baioneta, para poupar o peito. A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que, gasta de tanto acostumar, se perde de si mesma.

Marina Colasanti

Porque ainda falta!

terça-feira, 11 de janeiro de 2011




Porque prefiro estar com você, a estar em qualquer outro lugar. 
Me vejo refletida em teus olhos, que mais parecem dois globos de luz. 
Minhas pernas ficam fracas e minhas mãos esfriam a me deparar contigo. 
Nos meus sonhos, você ocupa sempre o papel de protagonista. 
Em simplesmente estar ao seu lado, meu coração já transborda de alegria. 
Me mandaram um presente chamado amor, 
que circula em mim como um rio, 
uma enxurrada, que faz meu coração pulsar com mais força, 
e que me faz querer estar sempre ao lado teu. 
Não há dúvidas. 
Mas, em nós ainda falta a audácia, 
aquele impulso que as crianças tem de fazer e nada temer, 
de não se importar com o que pensarão! 
Em nós ainda falta o amor passando queimando pelas veias, 
até que não nos reste nada mais a fazer do que nos render,
 e aliviar o coração!


“Ela quer atitudes, ele quer ela. 
Todas as noites ela pensa nele, e todas as manhãs ele pensa nela. 
E assim vão vivendo,
até quando a vontade de estar com o outro for maior do que os outros.”
(Tati Bernardi)

Entre aspas...

terça-feira, 4 de janeiro de 2011





No ano novo, quero me encantar mais vezes.
Admirar mais vezes. 
Compartilhar mais amor.
Dançar com a vida com mais leveza, 
sem medo de pisarmos nos pés uma da outra.
Quero fazer o meu coração arrepiar mais frequentemente de ternura,
 diante de cada beleza revista ou inaugurada.
Quero sair por aí de mãos dadas com a criança que me habita, sem tanta pressa.
Brincar com ela mais amiúde.
Fazer arte.
Aprender com Deus a desenhar coisas bonitas no mundo.
Colorir a minha vida com os tons mais contentes da minha caixa de lápis de cor.
Devolver um brilho maior aos olhos, aos dias, aos sonhos,
mesmo aqueles muito antigos, que,
apesar do tempo, souberam conservar o seu viço.
Quero sintonizar a minha frequência com a música da delicadeza.
Do entusiasmo. Da fé. Da generosidade.
Das trocas afetivas.
Das alegrias que começam a florir dentro da gente.

(Ana Jácomo)


Novo ano!

sábado, 1 de janeiro de 2011




  O relógio marcava 00:05, e os fogos estouravam no céu. Estava na praia, celebrando mais um ano que se iniciava. 2011! A cada estourar de fogos, meu coração inchava, e as lágrimas quiseram escorrer de meus olhos. Naquele instante agradeci a Deus pelo dom da vida, pelo ano que acabara de terminar, e pedi por esse que estava iniciando. Á cada respiração, junto com o ar, vinham esperanças, sonhos, desejos, felicidade... Mais um ano! Um ciclo havia acabado de encerrar, e outro estava começando. Estava recebendo visita de novas cores, novos aromas, novos sons, novas flores, novas borboletas coloridas, novos amores, novas alegrias, e senti o profundo desejo que tudo isso não fosse embora, ficasse instalado em meu peito durante esses 365 dias que estão vindo! Uma nova vida, um novo tempo, novas forças. E tudo recomeça,
                                                               ... mais uma vez! 



Toda história tem um fim, mas na vida cada final é um novo começo!