Na vida, o olhar da opinião, o contraste dos interesses, a luta das cobiças obrigam a gente a calar os trapos velhos, a disfarçar os rasgões e os remendos, a não estender ao mundo as revelações que faz à consciência; e o melhor da obrigação é quando, à força de embaçar os outros, embaça-se um homem a si mesmo, porque em tal caso poupa-se o vexame, que é uma sensação penosa, e a hipocrisia, que é um vício hediondo. Mas, na morte, que diferença! que desabafo! que liberdade! Como a gente pode sacudir fora a capa, deitar ao fosso as lantejoulas, despregar-se, despintar-se, desafeitar-se, confessar lisamente o que foi e o que deixou de ser! Porque, em suma, já não há vizinhos, nem amigos, nem inimigos, nem conhecidos, nem estranhos; NÃO HÁ platéia.
MACHADO DE ASSIS
1 comentários:
Ô, bem-querer!
Que leituras maravilhosas tens feito...
Não é à toa que a escrita se aprimora tanto...
Continua, investe.
“Livros não mudam o mundo, quem muda o mundo são as pessoas. Os livros só mudam as pessoas.” (frase atribuída a Mário Quintana, se não for dele mesmo, perdoe-me o autor...rs)
Beijo, beijo!
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